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Meu amigo imaginario – Capitulo 1

Posted in abuso, amor, conflitos, Emoções, estupro, Família, Fraternos, homens, mulher, Relações Humanas, Sentimentos, Sexualidade, Teorizando, Uncategorized, Universo Feminino, Valores e conceitos with tags , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , on 21/09/2017 by acacaferreira

Sexta-feira da paixão (obsessiva)

Era para ser um feriado prolongado como outro qualquer. Ela estava animada com o evento, iria visitar a mãe, um pretexto calculado.

Como solteira inveterada, preparou-se a semana toda. Depilação (check!), botox no cabelo (fechou!), unhas em azul profundo (perfeito!).

Partiu para seu destino final, o interior. Há os que dizem “não existir nada que preste por lá”, estes estão certos.

Ela chegou de madrugada, uma balbúrdia incomum soava no prédio, como quem festejasse a chegada dela. Na verdade, eram uns adolescentes bêbados transgredindo as regras do condomínio.

“Vou avisar a administração”, pensou ao entrar no hall dos elevadores.

Dormiu o sono dos justos e também o daquelas que desejam beleza eterna. No dia seguinte, ao amanhecer, fez uma foto da janela. Fez o check in pra avisar que havia chegado, alternativa errada, baby…

Após o café da manhã, fez um longo treino de corrida, daqueles difíceis de serem concluídos, pois, a topografia e o clima não colaboram, tempo muito seco, poucos pontos de hidratação, sem sombra. Mas mesmo assim ela julgou perfeito.

Estudou o máximo que pôde, estava num novo curso de especialização, dedicada como sempre. Combinou um cafezinho com as amigas, pretexto de novo. Sempre calculista, a safada.

Depois de almoçar com a família, o tempo passou rápido, sempre passa quando queremos a posteridade. Combinou uma café com uma amiga de mil anos de farra. Ela veio buscá-la, aproveitou e subiu para fazer surpresa à Maria Júlia (nossa personagem central) e sua irmã, que estava grávida. Eram, todas as três, amigas havia muitos anos.

Depois dos festejos do reencontro, como de costume saíram para conversar em um café, eram 18h. Chamou no whats:

  • Gato, você já era, sua fila vai andar, querido…

Segue a noite

A viagem, na verdade, havia sido feita para um segundo encontro, com um amigo de infância de Maria Júlia. Os dois haviam se reencontrado pela internet e estavam muito apaixonados.

O primeiro encontro dos dois havia sido no carnaval, depois de muitos anos sem ao menos saberem da existência, ou não, um  do outro. Resolveram repetir  a dose e Júlia partiu pro interior na Páscoa, conforme narrado acima.

Mas algo deu errado no meio do caminho, Luiz André resolveu não encontrá-la, do dia para a noite, disse apenas ter amanhecido numa crise violenta de depressão. E Júlia estava furiosa, pelo fato de Luiz recusar a ajuda dela e nem ao menos querer vê-la.

Alguns segundos depois e ele, num tom de galhofa, replica: – Esteja à vontade, Rss…

Ela se enfurece e deseja vingança, tudo pela honra, de uma escorpiana afobada.

No café as coisas correm muito fáceis. As duas amigas falam sobre os amores de outrora, dos atuais, das repescagens. Bom mesmo é falar de sacanagem. Na surdina.

No salão interno da casa chega um casal, gays? Aparentemente. Ela olha e desconfia. Faro afinado na função.

– Conheço aquele cara…mas deixa prá lá, amiga, eu sou meio paranoica. (Na verdade, Júlia reconhece o cara, um amigo em comum de Luiz André.).

Chama outro gato no whats:

– Estou na cidade, e você? Quer marcar um rolê amanhã? Estou tranquila, por enquanto…

– Oi, gata, amanhã chego às 18h. Quer marcar este horário? Tenho um niver às 23h. ̶ Ela o dispensa e diz ter um compromisso no mesmo horário, queria uma noite inteira de sexo só pra ela. A egoísta, exclusivista. Sede, muita sede.

Ela havia passado por um período de introspecção e isolamento. Quase atingiu a iluminação. Transferiu para bons hábitos suas antigas compulsões, antes tão nefastas. Agora era yoga, meditação, corrida, musculação, estudos.

Mas estava solteira, de volta ao interior e queria festejos!

Júlia estava bem disposta esta noite, mas havia sido dispensada, tentou o seguinte, que não tinha agenda disponível (ela odiava ter que disputar horários). Resolveu chamar o próximo da fila… Um desconhecido, ainda mais excitante.

– Vamos ver se este cara está na cidade…÷, comenta com a amiga…(Na verdade, Júlia decide checar se o “casal” que está sentado à frente das duas é o próprio amigo de Luiz André).

– Hey, baby, vai fazer o que logo menos? Tá por aqui?

Era o próprio, o bobão diz:

– Oi, querida, tudo bem? Estou com um amigo agora. Pode ser às 20h?

Ela provoca…

– Tem que ser mais tarde, estou com uma amiga,  e ainda vou passar em outro rolê… Acho melhor depois da 22h. Eu te chamo.

Ele pira, manda mil msgs por hora, insistindo no encontro frente a frente. Ela leva em fogo baixo… O assunto com a amiga rendia mais, sempre bom reencontrar nossas irmãs de alma.

A amiga ressalta que está ficando tarde e tem que ir embora. Conversa no café nunca demora muito. As duas outras pagam a conta do café. Fazem self, para marcar o momento, e ela se despede.

Ela parte para uma esticadinha, logo ali, na casa de uma outra parceira. A amiga dá uma carona pra Júlia, segue a avenida em frente e vira à direita. No interior é tudo muito próximo…

Maria Júlia encontra a amiga na garagem da casa dela.

– Hey!! Tem cerveja por aí?

– Ahim, miga, tô falida…

– Tudo bem, eu vou pegar umas pra gente.

Atraso no cronograma, Júlia seguiu para o supermercado, preocupa-se com o relógio…tic, tac…

“Merda e se alguém me vê por aqui, vai zoar meu rolê”, pensa ela. Presta atenção nos carros da rua e olha atenta se ninguém conhecido passa…

Escolhe algumas cervejas, tem um rótulo legal que está mais barato, leva umas da classe C também. Se enrola no caixa e decide voltar, à seção de bebidas, para pegar mais duas latinhas da cerveja em promoção.

Atravessa a avenida apressada e se pergunta:“Será que ele está por aí? Imagina, deve estar elucubrando uma maneira nova de ’tentar‘ se matar. O trouxa trocou sexo por depressão, péssima troca, meu bem…”

Júlia está de volta à casa da amiga, ela abre o portão. Sentam-se e conversam sobre dois mil assuntos diferentes. Júlia sempre checa o celular, combinando com o desconhecido o que irão fazer.

Finalmente responde  ao desesperado que atende pelo nome “Daniel”.

– Estou em uma amiga perto do “Café Tals”, e você?

Ele responde:

– Num bar por aqui também, com um amigo, assistindo ao jogo. Sua amiga vai também?

– Olha lá, cara, isso não é uma barca! Eu só quero tomar umas cervejas, está muito cedo preu ir para casa…

Júlia só queria tirar uma chinfra de Luiz, para ele ficar  com raivinha, ciuminhos  e remorçozinhos de ter ficado em casa. Ela queria que Luiz André soubesse que ela sabia reagir e não se curvava às suas próprias fraquezas emocionais. Maria Júlia estava vencendo o pânico associado à ansiedade e depressão.

Voltemos à conversa de Júlia e Daniel:

Ele responde à mensagem:

– Tudo bem, querida, você é quem manda…passa o endereço, que eu te pego…

– Nem fodendo, me encontra no posto em frente ao café, às 23h…

– Beleza, gata, te espero!

Júlia decide prolongar a conversa com a amiga e manda a seguinte atualização para Daniel:

– Vou atrasar, querido. Tudo bem para você?

– Ok, o jogo já terminou, mas vou dar um tempo no bar até você me acionar de novo…

O tempo passa e Júlia nem percebe. Ao bater das 23h30, ela se sobressalta:

– Preciso ir, miga÷. Nem faz xixi e manda outra mensagem…

– Chego no posto em 15 min…

Outra notificação de Daniel:

– Vou calibrar os pneus enquanto isso, não se preocupe…

Ela sai a pé, decidida. Desfilando pela rua, short curto, a blusa descobrindo um dos ombros, uma brisinha boa no caminho.

Antes de atravessar a avenida, ela vê Daniel, olha para baixo, joga os cabelos de lado e depois olha fixamente para ele. Acreditem, qualquer um fica de pau duro com estes olhos castanhos enormes e famintos!

Cumprimentam-se e Júlia emenda:

– Tudo bem?! Aonde tem um lugar aberto que venda cerveja nesta cidade? As pessoas não bebem numa sexta de feriado como esta?

– Ah gata, a esta hora, só a lanchonete, no trevo do fim da avenida, o que acha?

– Para mim está ótimo, é o caminho para casa da minha mãe. ÷ Júlia veio visitá-la.

– Você não quer passar a noite comigo? Ir prum motel? Ele pergunta.

– Não, gato, já te avisei que só estou a fim de dar uma conversada, tomar umas cervejas pra te conhecer melhor, ok? Do contrário, passe bem, vou nessa, beijo!

Mas ele parece ceder:

– Tá legal, vamos pra lá,  a gente toma umas e eu te deixo na casa da sua mãe. Mas, se você quiser, tem a casa de uns amigos lá por perto, você vai gostar de conhecer.

Ela só queria alguém para pagar umas cervejas e  exita na hora em que ele fala dos amigos.

– Aonde eles moram? Qual o nome da rua?

– Rua Senhor Jesus Cristo, fica pertinho da lanchonete onde vamos.

– Imagina que eu vou para a casa dos seus amigos! Nem sei quem é que vai estar por lá…

Nunca fale com estranhos, honey

Ela agia como se tivesse 12 anos, irresponsável e inconsequente.

Júlia só estava fazendo isso porque sabia que Luiz André “morreria em saber”, ela esteve com o parça Daniel.

Eles decidiram seguir para a lanchonete do trevo.

Ela dá a volta no carro, aqueles instantes passam em câmera lenta, como alguém que a vigia e tenta alertá-la. O insight vem, mas infelizmente será negligenciado: “Acho que isso vai dar merda…”

Ela entra no carro, sabe que é a última chance de desistir daquela situação, mas muda de ideia ao ver uma bola de futebol:

– Nossa, você tem filho? Que legal! Adoro crianças, ou melhor, elas me adoram. Elas sempre colam em mim se eu estiver no rolê, improvável mas fato, acredite!

Ele não responde, dá marcha à ré no carro enquanto ela olha pela janela…”Don’t go too far”…alguém suspira em seu ouvido.

Continua…

“Too much for today.”

Olivia Holística

Autocuidado, autoconhecimento e espiritualidade. Vem comigo nessa jornada?

A festa é boa para pensar.

Para Mikhail Bakhtin, as festividades "são uma forma primordial, marcante, da civilização humana", logo, a festa, o carnaval e a cidade, são convidados especiais deste espaço.

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